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Pindobaçu tem um dos menores PIB da Bahia e vive situação econômica desafiadora

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O município de Pindobaçu, no norte da Bahia, é conhecido como “capital das esmeraldas” por causa da forte atividade de garimpo na Serra da Carnaíba, de onde já saíram pedras preciosas gigantes, vendidas por valores milionários. Apesar do apelido luxuoso, a cidade de menos de 20 mil habitantes tem Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 157 milhões, um dos menores do estado, e vive situação econômica desafiadora, segundo análise de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com o órgão, o PIB de Pidobaçu é relativamente baixo, ocupa a posição 252 entre os 417 municípios baianos.

👉 O PIB local representa, conforme dados de 2021 do IBGE, 0,04% do da Bahia, que é de R$ 352 bilhões. No mesmo período, o Brasil tinha um PIB de mais de R$ 9 trilhões.

👉 O PIB de Pindobaçu tem um perfil diferente de cidades mineradoras como Parauapebas, no Pará (R$ 49 bilhões) ou Brumadinho, em Minas Gerais (R$ 4 bilhões), onde a indústria de mineração tem maior peso.

Pindobaçu em dados

ÁREA TERRITORIAL495,845 km² (2022)
POPULAÇÃO RESIDENTE19.083 pessoas (2022)
DENSIDADE DEMOGRÁFICA38,49 hab/km² (2022)
MORTALIDADE INFANTIL7,91 óbitos por mil nascidos vivos (2022)
PIB PER CAPITAR$ 7.836,92 (2021

Pindobaçu em dados

Pindobaçu está localizada na microrregião de Senhor do Bonfim, composta por outros oito municípios do norte baiano. É nesse território que está encravado o distrito da Carnaíba, entre Pindobaçu e Campo Formoso, onde existe uma cadeia montanhosa em pleno semiárido.

Na parte alta está a “Carnaíba de Cima”, apelido dado pelos nativos para a área que reúne o maior número de garimpos da região, onde moram cerca de 8 mil famílias. Na parte baixa residem os outros moradores, que não atuam com mineração, em sua maioria.

De acordo com o geólogo da Cooperativa Mineral da Bahia (CMB), Osmar Martins, que estuda a atividade na região, a primeira mina de esmeralda da Serra da Carnaíba foi descoberta em Pindobaçu em 1963 e continua ativa.

“Ao longo desses anos, nunca se produziu menos de R$ 5 milhões por mês em mineração, sendo que houve um período em que se chegou a produzir R$ 50 milhões por mês”, contou o geólogo.

“O mais interessante é que ao longo de todos esses anos, não se tirou ainda 7% das esmeraldas existentes, apesar dos seus mais de 400 quilômetros de galerias”, destacou. Estima-se que haja mais de 200 minas na serra.

Ao menos cinco pedras gigantes de esmeraldas foram encontradas em um intervalo de 23 anos em Pindobaçu. Em maio de 2024, uma pedra preciosa de matriz preta com esmeraldas verdes, com 137 quilos foi arrematada por R$ 175 milhões após um leilão da Receita Federal.

Segundo Osmar Martins, o motivo da atividade mineradora não gerar riqueza para o município pode ser explicado pelo local onde as pedras preciosas são negociadas.

A maioria das esmeraldas que saem das minas de Pindobaçu é vendida todos os dias no meio da praça de Campo Formoso, cidade vizinha. Trata-se de uma “feira de pedras preciosas ao ar livre” que atrai compradores locais e de outros estados do país.

Para o pedagogo Paulo Soares de Souza de 65 anos, morador de Pindobaçu desde que nasceu, Campo Formoso se preparou para usufruir dos lucros gerados pelas pedras retiradas da Serra da Carnaíba, com investimentos no turismo e infraestrutura para os compradores, ao contrário do município vizinho.

“Os moradores da nossa cidade [Pindobaçu] sobrevivem de pequenos cargos oferecidos pela prefeitura, trabalho no comércio de alimentos, como pedreiro ou na lavoura. Muita gente saiu daqui em busca de oportunidades melhores nas cidades maiores”, explicou.

A observação de Paulo coincide com os dados o IBGE. O Censo de 2022 informou que cerca de mil pessoas deixaram a cidade entre 2010 e 2022.

O número calculado na pesquisa, de 19.083 pessoas, é um contingente que não enche a Arena Fonte Nova, que tem capacidade de 48.902 pessoas, nem os estádios Barradão (30.618) e Pituaçu (48.902) – os três equipamentos ficam em Salvador.

Do total da população, 60% da renda é gerada pelas atividades da administração pública municipal, o que indica uma economia pouco dinâmica, conforme o órgão.

Um indicativo importante de pobreza de Pindobaçu são dados divulgados pelo IBGE em 2010, que mostram que quatro em cada dez moradores tinham uma renda de até 1/4 do salário mínimo por pessoa. Isso influencia na redução populacional, de acordo com a supervisora de pesquisas do IBGE na Bahia, Mariana Viveiros.

“As cidades pequenas da Bahia têm um pouco dessa tendência de expulsar população, que vão migrando para cidades maiores do entorno, como no caso de Pindobaçu, para Jacobina, Senhor do Bonfim e Campo Formoso”, analisou.

Outro indicador que aponta a situação desfavorável economicamente de Pindobaçu é o PIB per capita, que representa a média de produção e riqueza da cidade distribuída por cada habitante. Com o valor de R$ 7.800, o município tem o 26° pior entre os 417 municípios do estado.

O valor é 40 vezes menor que o de São Francisco do Conde, no recôncavo baiano, que tem o maior PIB per capita do estado (R$ 321.810,96).

“A gente sabe que o PIB per capita, embora seja um indicador internacional de condições de vida, não é muito fiel, porque nem todo PIB fica no município, e se fica, não é igualmente distribuído entre as pessoas”, ponderou Mariana Viveiros.

Em busca da riqueza

A família de Renasci Amorim fez um movimento menos comum na região. Ela nasceu em Jacobina, mas se considera pindobaçuense. A agente de saúde, técnica de enfermagem, capoeirista e líder comunitária é filha de Joana Oliveira, mãe solo que em 1969 se mudou para o município com os filhos e o sonho de enriquecer na mineração.

“Todo mundo que chega em Pindobaçu vai para trabalhar no garimpo, acha que vai encontrar uma esmeralda de um trilhão de dólares e ficar rico. Muitos não retornam mais para suas terras, outros ficam mais pobres do que eram, e alguns enriquecem e ficam pobres de novo. É igual a Chicó: na mesma hora que você está rico, você está pobre. A história é essa”, contou a moradora, citando o contador de causos, personagem do famoso filme “O Auto da Compadecida”.

Os planos da mãe de Renasci não se concretizaram. Durante esses mais de 50 anos na cidade, a idosa enfrentou dificuldades financeiras e perdeu o filho quando ele tinha apenas 32 anos, para uma doença relacionada ao trabalho no garimpo.

O homem foi vítima da silicose, doença pulmonar causada pela inalação contínua e constante da sílica cristalina, um componente das rochas extraídas das minas. “Minha mãe não ficou rica, muito pelo contrário. Ficou pobre, doente, velha, perdeu um filho para uma doença chamada silicose, provocada pela poeira da pedra que sai quando extrai a esmeralda”, relatou.

Do Brasil para a Índia

Joalheiros, ourives, colecionadores e especialistas de todo o mundo visitam a região em busca das pedras. Todavia, os principais compradores das esmeraldas baianas são indianos.

“A esmeralda é uma pedra sagrada para o povo indiano, então além do interesse econômico, também envolve a religião. Eles são os maiores compradores, principalmente das pedras de baixa qualidade, já as de grande valor vão para a América e Europa”, explicou Osmar Martins.

Enquanto estrangeiros atravessam oceanos para adquirir as esmeraldas, quem trabalha para encontrá-las tem uma rotina árdua e repetitiva.

Os trabalhadores – muitos em situação irregular – costumam começar a garimpar antes das 5h, faça sol ou chuva. O esforço é para encontrar uma pedra que valha milhões, como a esmeralda gigante de 380 quilos que virou alvo de ação judicial após ter sido comercializada ilegalmente para os Estados Unidos. A realidade, porém, está longe do que se espera.

As quijilas são trabalhadoras que vasculham o rejeito das minas para garantir o sustento, muitas vezes, de famílias inteiras. Elas lavam o cascalho para tentar encontrar as pedras.

Joseni Maria Gomes tem 57 anos é uma delas. Chamada carinhosamente de Baixinha pelos amigos, ao g1, ela contou que sobrevive do garimpo desde adolescente e que se arrisca diariamente para conseguir pagar as contas no final do mês, já que os acidentes com mortes nas minas não são raros.

Somente em julho, ao menos dois homens perderam a vida trabalhando em garimpos na Serra da Carnaíba. As tragédias, porém, não intimidam Baixinha.

“Acordo todos os dias cedo e vou para o trecho aventurar, para ver se arrumo alguma coisa para fazer a feira dos meninos. Tem semana que a gente consegue e outras que não faz nada”, revelou.

Questionada sobre o valor que ela geralmente consegue em uma semana de trabalho pesado, ela falou que chega aos R$ 200, no máximo. “É dinheiro pouco, não consigo muita coisa. É só o dinheiro de uma feira, pagar uma conta do mercado”.

Quatro gerações na mineração

O comerciante Gilmar Lopes de Araújo, 49 anos, representa a terceira geração da família, que desde a década de 1960 trabalha com esmeraldas no município de Pindobaçu, quando a atividade foi iniciada na Serra da Carnaíba por aventureiros oriundos de várias regiões do país.

“Meu pai foi produtor de esmeralda aqui e meu avô também, quando abriu o garimpo aqui, em 1963. Meu avô até saiu na capa de uma revista, em 1977. Ele era conhecido como o rei das esmeraldas e se chamava Zeca Lopes”, detalhou Gilmar Lopes, em entrevista ao g1.

Hoje, dois filhos do empresário também vão no mesmo caminho e vendem a pedra preciosa, em uma atividade conhecida como corretagem, que consiste em pegar a esmeralda de uma pessoa e levar para outra comercializar.

Gilmar possui um pequeno restaurante, mas sem deixar o ramo da mineração, com a compra e venda de esmeraldas. Ele também já trabalhou na exploração da pedra preciosa, como fiscal.

O comerciante falou sobre a sensação de insegurança que poderia ocorrer na cidade, por causa do comércio de esmeraldas, que envolve uma quantia alta em dinheiro. Segundo ele, não há perigo nenhum e, inclusive, negociações acontecem em via pública.

“Mesmo que pessoas que venham de fora, elas não têm conhecimento de como adquirir aquilo. Você vê as negociações, com valores altos, na praça do comércio, e não tem risco nenhum”, afirmou.Questionado sobre a economia local, Gilmar reconhece a situação de pobreza da maior parte da população, e acredita que isso acontece pela falta de conhecimento em administrar os valores altos que pessoas poucos preparadas alcançam com as vendas das esmeradas.

“Tem gente que consegue pedras que valem muito dinheiro, mas acabam com tudo porque não tem noção de administração. Muitos realmente perdem tudo rápido e a desigualdade social se torna bem aparente. Quem tem condições tem seu carro e casa boa. Quem não tem, vive na pobreza mesmo”, falou o comerciante sobre a realidade no município.

Apesar do cenário, para Gilmar a cor verde da esmeralda simboliza a esperança para muitos moradores de Pindobaçu que desejam mudar a própria realidade.

“Viver aqui e trabalhar com isso significa que você vai ter, a cada dia, a esperança de conseguir aquela pedra com um valor que vai mudar a sua vida”.

Manoel da Silva Alencar, 56 anos, é uma das pessoas que acorda diariamente em Pindobaçu, há três décadas, com a esperança de “melhorar de vida”. Ele é proprietário de uma das minas da Serra da Carnaíba.

“A gente sempre quer o melhor para nós e para nossa família. Levantamos todos os dias com essa esperança. Muitas pessoas falam em ilusão, mas na verdade é fé. Enquanto a gente tem um sonho, a gente tem que lutar”, disse ao g1.

Manoel também faz parte da terceira geração de garimpeiros da família. Ele conta que muitas pessoas caracterizam o trabalho como perigoso, mas avalia que o risco é parte da atividade.

“O trabalho no garimpo tem seus riscos como outros também têm. Às vezes acontecem fatalidades, mas a gente tenta evitar que elas aconteçam”.

Veja abaixo algumas curiosidades sobre Pindobaçu:

A cidade se chama Pindobaçu, nome indígena que significa “Palmeira Grande”, por causa da vastidão de árvores deste tipo no território.

O município foi emancipado em 4 de março de 1953. Antes disso, o território fazia parte de Campo Formoso.

A cidade tem uma barragem localizada a oito quilômetros da sede, na região do Piemonte da Chapada Diamantina, com volume de armazenamento de 16,88 milhões de metros cúbicos, que permite a implantação do sistema de abastecimento de água de Pindobaçu, Saúde e Caém, além de reforçar o sistema de Jacobina.

Na maior parte do ano, Pindobaçu registra grande volume de chuvas. Moradores brincam que o sol “só aparece para passear”. O clima é caracterizado pelo “friozinho gostoso” principalmente no início do dia e durante a noite.

Com belas serras, cachoeiras e outras belezas naturais, a cidade é muito procurada por quem se interessa pelo ecoturismo. Entre os pontos famosos da região estão a Serra da Fumaça e as Cachoeira do Véu e Noiva e do Payayá.

No âmbito cultural, o município se destaca com a Festa de Reis, que dura 12 dias, entre 24 de dezembro e 6 de janeiro, e celebra a viagem e a visitação dos reis magos ao menino Jesus.

Famosa na Bahia, a colorida e tradicional quadrilha “Lamarão” é muito conhecida e festejada durante os festejos juninos de Pindobaçu.

Com duas escolas estaduais e 32 administradas pelo município, Pindobaçu tem uma taxa de escolarização de 99,4% (6 a 14 anos), conforme dados de 2023 do IBGE. Já o analfabetismo é de 5,4% para maiores de 15 anos.

Fonte: g1



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