A vida de uma mãe e sua filha adolescente foram devastadas, em junho de 2022, quando a jovem foi vítima de violência sexual, supostamente cometida por um servidor público municipal que trabalhava no Subúrbio 360°, em Salvador. O crime teria sido cometido por um servidor público do Subúrbio 360°, inaugurado no bairro de Coutos, em Salvador, quatro anos antes.
Temendo represálias, a mãe, que prefere não se identificar, contou ao BNews que o crime aconteceu em meio a tentativas de recomeçar na capital baiana após se mudarem da ilha onde viviam.
Desde então, a tentativa de construir uma nova história na capital, já que são da ilha, teve obstáculos contínuos. Por consequência, nesta segunda-feira (13/8), após denunciarem os casos, as duas deixaram o bairro onde moram.
Promessas vazias
O acusado, um homem, de 47 anos, identificado pelas iniciais A.S.R., prometeu “cuidar” da integridade física das duas ao conhecê-las, pois elas mantinham uma barraca de vendas na parte externa do Subúrbio 360°. A filha da denunciante, de 17 anos na época, ajudava a mãe no negócio.
Ao notar a presença diária da garota, um funcionário passou a ameaçá-las e aliciar a mesma. “Ele me recebeu falando que tomava conta da área para que as pessoas não fizessem bagunça. Ao conhecer minha filha, percebi as investidas dele, começou a aliciá-la, estava insuportável. Sempre orientava a minha filha, com muito medo, como mãe solo, que havia criado com muito carinho, amor, porque sabia que era homem casado. Ela falava: ‘não, mãe, é só amizade”, explicou em entrevista.
Posteriormente, o homem e a garota se aproximaram pois, segundo a mãe, depois dele se aproveitar e fingir dar proteção. “Dei um flagrante em um funcionário que trancou minha filha em um depósito de material que foi cedido para guardarmos nosso material de trabalho. O funcionário assustado abriu a porta, falou que era brincadeira. Minha filha me relatou que estava sendo agarrada, ela nunca teve namorado e nem se relacionado”, detalhou.
Busca por ajuda ignorada
Ainda em 2022, a mulher procurou a coordenação do Subúrbio 360° para relatar a perseguição, mas foi informada que tudo não passava de “escolha da adolescente”.
Após a saída da antiga coordenadora, a atual gestora sugeriu que a mãe procurasse a Delegacia Especializada de Crimes Contra a Criança e o Adolescente (Derrca) e pedisse uma medida protetiva. No entanto, a mãe hesitou em seguir adiante por falta de provas e pelo temor de represálias, já que sua filha negava o abuso por estar sendo ameaçada.
“Eu não fiz porque não tinha provas suficientes ainda, minha filha negava por ser ameaçada. Até que percebi mudanças no comportamento de minha filha, ela me cobrava porque eu tinha levado ela para Salvador, que tinha estragado a vida dela”, desabafou.
A descoberta
Em 9 de julho, a mãe levou a filha, agora, com 19 anos, à Casa da Mulher Brasileira para acompanhamento psicológico. “Ele é envolvido em ações sociais na comunidade toda que respeita ele. Quando tomou ciência deste boletim de ocorrência, mandou uma pessoa armada, que chegou gritando, dizendo que o servidor tinha conseguido emprego para ele e a esposa, que tinha gratidão. Me chamou de vagabund*, me empurrou, apagou algumas provas de meu telefone”, contou.
Orientada por uma assistente social da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) de Periperi, a mãe procurou o Conselho Tutelar, que encaminhou o caso para a Derrca. No entanto, as escutativas foram agendadas apenas para setembro.
Fugindo das ameaças
Com medo pelas constantes ameaças, mãe e filha fugiram do local onde moravam. “Ele foi até minha residência, bateu, ela abriu a porta, a beijou e vistoriou a casa toda. Quando percebeu que estava sozinha, ele levou para o meu quarto, fez o ato [estupro], ela rejeitou, sangrou porque era virgem. Depois, ele foi embora rapidamente. Ela se transformou depois, quase perdi minha filha por depressão”, contou a mãe, visivelmente abalada.
Atualmente, as duas estão escondidas na casa de parentes. A Derrca chegou a antecipar as escutativas e pediu desculpas pela demora.
Respostas das autoridades
Após a queixa ser registrada pela mãe no dia 5 de julho deste ano, o funcionário, cujo nome não foi divulgado, foi desligado da empresa prestadora de serviço à Smed.
“O suposto ocorrido aconteceu fora do ambiente escolar, há dois anos, quando a suposta vítima mantinha um relacionamento com o acusado e ambos eram maiores de idade. O funcionário foi desligado da empresa prestadora de serviço à Smed”, informou a secretaria à reportagem.
A mãe também relatou que a gestora tomou conhecimento da denúncia, mas disse que não poderia demitir o funcionário por ele ser protegido politicamente. Em vez disso, o orientou a pegar um atestado e se afastar.
Após o entendimento do que sofreu, a jovem iniciou a faculdade de Direito com o objetivo de, no futuro, ajudar outras vítimas de abusos sexuais.
A assessoria do Ministério Público da Bahia (MP-BA) disse que tem procedimento para apuração dos fatos, instaurado após denúncia feita no último dia 24 de julho, de supostos casos de violência sexual na escola Subúrbio 360, localizada no bairro de Coutos, em Salvador. O MP ressaltou ainda a importância do contato de possíveis vítimas junto ao órgão, para que registrem as denúncias, com a garantia de que terão a identidade preservada. Os contatos são Disque 127 e atendimento.mpba.mp.br.
A Polícia Civil da Bahia (PC-BA) também foi procurada, mas não respondeu até a publicação desta matéria.
Fonte: BNews
Deixe um comentário